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Foto do escritorKátia Ferreira - Psicóloga

A SIMPLICIDADE DA INFÂNCIA



Esses dias fui almoçar em um restaurante por quilo. Era para ser somente um almoço para matar minha fome e desfrutar de um tempo de tranquilidade, o que acontecesse na verdade, o externo estava tudo ok, comida boa, quentinha e deliciosa.


Enquanto almoça, exercitando minhas 30 mastigadas e descanso de talheres, tive a oportunidade de observar o ambiente ao redor. Não sei se vc também costuma fazer isso, ou se é uma prática comum aos colegas de profissão, mas certamente observar o ambiente ao redor é uma técnica exigida aos psicólogos quando esses trabalham em lugares coletivos (me lembro que fiz estagio em hospital quando ainda sonhava em ser psicóloga hospitalar, passamos um mês observando - fazendo apenas isso), mal imaginava eu, que 20 anos depois ainda estaria observando...


Enfim, muitas coisas começaram a me chamar a atenção, e enquanto observava meu coração se afligia. O almoço até então tranquilo passou a se tornar águas agitadas dentro de mim, agitou tanto que me levou a escrever essa reflexão.


O que observei certamente não é nada novo, e com certeza vc leitor também já deve ter visto, não se causou a mesma inquietação que provocou em mim, ou se vc também seria um desses casos.

A primeira coisa que me chamou a atenção e começou a me agitar aconteceu logo na fila de servir o alimento. Ali encontrei uma mãe muito linda e arrumada, um pai a altura da mãe e uma menininha de 3 anos - que pelo menos na hora do almoço - era a sua “majestade a criança” e os dois adultos envoltos para satisfazer e agradar sua pequena “rainha”. “É isso que vc quer minha filhinha? Quer um pouquinho desse? E desse aqui?"


Qual o problema disso? Vc deve estar perguntando. São tantos que eu nem sei por onde começar (e esse nem é meu foco principal aqui). Mas para vc entender meu caro leitor, há uma ordem

pré-estabelecida na vida. Concordando com isso ou não, jamais mudará o fato de que quando algo está fora do lugar causará consequências e desequilíbrio. E a criança não deve ser o centro da família, exceto quando ela é um bebê em que precisa realmente de atendimentos e acolhimentos imediatas quando solicita.


É o que Freud chama de “sua majestade o bebe”. Esse período de “poder" é essencial para o bom desenvolvimento psíquico e físico também desse novo ser em desenvolvimento , mas tão importante quanto ele ocupar esse espaço em seus primeiros meses é a importância de tira-lo desse lugar.


A não ser, é claro, que vc queira criar um déspota, um tirano ou um ditador, que acredita ser o centro do universo e os demais mortais não passam de seus súditos. E aí vai uma verdade - a criança não precisa ser atendida sempre e em todas as suas demandas! É no não, no limite, que ela vai começar a entrar em contato com a realidade da vida e suas frustrações.

Não sei se vc tem ideia da importância disso, é a partir daí que começará a se constituir um sujeito emocionalmente saudável e que poderá se relacionar com os seus pares também de uma forma saudável e equilibrada.


Vale sempre lembrar que as crianças crescerão e a nossa principal função como pais não é dar uma boa oportunidade de escola, roupas e viagens caras (claro que temos que prover as necessidades básicas), mas eu acredito que uma das nossas principais tarefas é preparar essa criança para a vida adulta. Onde ela possa encontrar nela mesma as ferramentas necessárias para lidar com as demandas da vida e também recursos internos para se auto gerenciar e ser capaz de se relacionar com outras pessoas.


Não pense você que atendendo prontamente os gostos e desejos sem fim do seu filhinho que você estará ajudando-o a crescer sem traumas, muito pelo contrario, estará tirando dele a oportunidade de se transformar em um adulto regulado e aceito.


E isso foi só a fila para pegar a comida, o mais doido foi o que vi depois . Na outra ponta dessa extrema atenção para a filha, vi uma mãe completamente desatenta ao seu filho. Nesse segundo caso era um menino na casa dos 9 anos, era tão disfuncional a relação dos dois que me segurei para não chorar. Pra começar a mãe fez o prato do piá, cortou toda a carne, misturou o arroz com o feijão, deu um pedaço de carne na boca dele, abriu um ketchup (?) para ele por no sushi, depois abriu o chá gelado. Mas fez tudo isso sem olhar para ele ou conversar, e depois que ele enfim assumiu as talhares, ela - a mãe - não largou mais o celular.


Ele ficou o tempo todo chamando-a, buscando interagir, até retribuiu colocando um pedaço de carne na boca dela, mas ele não conseguiu o que queria - o olhar e a atenção de sua mãe (como eu seu que era isso que ele queria? Simples, porque é o que toda criança quer). Ficou evidente que todas as atividades que ela fez para ele era uma forma de compensar o afeto negado.


Vc pode alegar que eu estou tirando conclusões precipitadas, pode até ser, o dia a dia pode ser diferente, mas muitas coisas são ditas - no não dito - nas horas das refeições.

Não vou citar a o que vi na minha direita e na minha esquerda, vai ficar para um próximo texto, mas eu comecei dizendo que a infância é simples e quero te explicar porque: a criança tem necessidade de 3 coisas - nutrição física, nutrição emocional e segurança - só!

Como psi vou me deter na nutrição emocional, mas os demais são auto explicativos.

Você nutri seu filho emocionalmente quando toca nele, pega no colo, abraça, faz um cafuné e olha para ele e nos olhos dele, pode dizer algo ou não, mas transmite para ele que você está ali - com ele e por ele e o ama.


Você nutri seu filho emocionalmente quando vc diz não, os limites também o faz sentir o amor e o cuidado, trazendo uma sensação de segurança e proteção psíquica e fisica também.

Você nutri seu filho emocionalmente quando dedica tempo de exclusividade, se interessa pelo o que ele está fazendo e por ele como uma pessoa.


Você nutri seu filho emocionalmente quando vc permite que ele realize as tarefas que são adequadas a idade, e também o incentiva a realiza-las, porque ali ela vai ganhando auto confiança ao desenvolver suas múltiplas habilidades e isso fortalecerá sua auto estima.

Você nutri seu filho emocionalmente quando conversar com ele, conversas bobas, triviais, serias e quando vc diz palavras de encorajamento, elogios, disciplinares e corretivas.


Percebeu como é simples, e é isso que uma criança em desenvolvimento precisa - olhar, toque, apegos, palavras, tempo, limites e atenção.


Espero que vc possa encontrar o prazer da simplicidade no relacionamento com seus pequenos.


Com carinho,

Katia Ferreira



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