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Foto do escritorKátia Ferreira - Psicóloga

NECESSARIAMENTE DESNECESSÁRIA


Três dias antes do Gabriel completar 11 anos eu tive uma crise. De repente veio-me uma clara consciência e noção de que eu não tenho mais criança em casa. Junto, veio um choro, lá do fundo da minha alma, e um misto de alegria e tristeza.


No cotidiano da vida, quase nunca nos damos conta de como a vida passa. Ela flui e vai, esvaindo pelos dedos. Semelhante à um punhado de areia, encontra os espaços entre os vãos e se vão.


De repente, ao olhar para o meu caçulinha e percebe-lo como um pré-púbere, dei-me conta de que a infância passou pela nossa casa e agora esta se despedindo.


Há tempos, muito tempo se foram as chupetas, mamadeiras e fraldas. Choros sem fim e noite mal dormidas. Confesso que dessas coisas não sinto falta, mas junto com isso, também se foi o meu menininho.


Aquele pequeno ser, tão dependente está agora crescido e pronto para um novo porvir. Não sou mais tão necessária, e que bom, tem que ser assim, mas as mudanças de fase trazem sempre consigo coisas novas em troca das antigas. Nada fica imune à ações do tempo.

Então eu chorei. Chorei a infância que se finda, a inocência, a dependência e a minha juventude. Já não sou mais uma mãe de crianças. Não encontro mais espaços nos parquinhos e nas festinhas infantis. Encerrou-se o tempo dos rostos pintados e dos brinquedos espalhados.


Agora é um novo momento: para ele e para mim. Vou precisar me achar novamente como mãe de um pré-adolescente. Para ele é mais tranquilo, é só a vida seguindo, é só mais um ano de vida, mais um sopro na velinha. Ainda está muito imaturo para perceber tudo o que ficará para traz. Já para mim…


Vejo o tempo passando correndo! Ele passou, o tempo voou, parece que eu nem vi. Eu sei que soa como um clichê, mas é realmente o que aconteceu. Aproveitei cada segundo e cada momento, ou pelo menos pensei que aproveitei, porque olhando para trás, consigo ver aquelas areias escorrendo pelos dedos.


E com as lembranças escorrem também as lágrimas daquilo que passou e não voltam mais. Os últimos segundos da infância estão fazendo tic-tac para terminar. Agora é uma contagem regressiva, dos últimos minutos desse mais lindo período da vida. Os últimos que eu tenho o meu menino só para mim, daqui a pouco ele se vai e a casa ficará vazia e silenciosa.

Não terá mais bicicletas pela garagem, as bolas bagunçadas no chão da sala e aqueles meninos suados e fedorentos no sofá. Está tudo terminando, e esse período se encerrando.


Ao se dar conta da brevidade, a infância passa muito rápido, é como se a gente nem visse, embora eu vi, eu presenciei, mas a verdade é essa: o tempo sempre passa. Se você aproveitar, aproveitou; senão escorreu-se e foi, e já não volta mais.


Ao Gabriel desejo as mais lindas bençãos. As minhas lágrimas eu seguro para mim, junto com todas as lindas memórias e historias, junto com as lembranças das cantigas, dos desenhos que assistimos juntos, dos passeios, risos e gargalhadas. Guardo tudo em um baú específico do meu coração. E ao fecha-lo eu já abro outro, completamente vazio, esperando ser preenchido pelas novas historias dessa nova fase da vida.


E assim a vida segue, entre términos e começos, fins e recomeços. E eu estarei ao lado dele, em tudo o que ele precisar, não mais como figurante principal, segurando sua mão, mas como coadjuvante que aos poucos vai dando espaço para novas pessoas entrarem em cena na vida dele, e depois espectadora olhado de longe o meu menininho agora já crescido.


Katia Ferreira

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