Férias de julho.
Meu filho mais velho, já adolescente foi viajar com o amigo para a praia (sim eu deixo, o menino precisa viver aventuras, perigos, se virar para esticar sua masculinidade, mas para maiores detalhes fica para outro texto), o esposos viajando a trabalho.
Fiquei, eu, meu trabalho e o Gabi (10 anos).
Essa idade já é bem boa na verdade, eles não são mais tão dependentes, conseguem se cuidar em muitas coisas sozinhos. Pelo menos aqui em casa é assim. Nessa idade Gabriel já sabe que ao levantar precisa ir ao banheiro, lavar mãos e rosto, tomar água, arrumar a cama, trocar de roupa, pentear o cabelo. Só depois disso aparelhos eletrônicos são liberados. E nos primeiros dias de férias foram assim, bem tranquilos, ele estava feliz de não precisar fazer nada e passar a tarde na TV - mas eu não.
A cada dia ficava mais incomodada, isso não é vida e nem férias. Isso aconteceu porque meu planejamento prévio furou (ainda bem que sei lidar bem com imprevistos).
Nos primeiros dias ele ia brincar com o melhor amigo e vizinho, mas esse foi viajar! Depois meus pais iriam vir busca-lo, mas minha mãe precisou ir ao médico e adiou a viagem de “busca ao neto”.
Enfim, precisei me reorganizar. Afinal a criança não tem culpa. Ela ainda precisa da orientação, cuidado e direcionamento dos pais.
Combinei com ele que nosso primeiro passeio seria uma ida ao cinema. Cineminha sempre cai bem nas férias, não é mesmo?! Fiz uma nova organização dos meus horários para poder ficar com uma tarde livre para passar um tempo de qualidade com o meu pequeno (aliás tempo de qualidade é a principal linguagem de amor dele).
Comprei antecipadamente os ingressos, o combo da minha pipoca pequena com água e a grande com refrigerante para ele. Estava tudo certo.
Cheguei antecipadamente ao cinema, porque detesto atrasos, mas ainda assim, pegamos uma fila enorme para pegar a pipoca, o que acabou atrasando nossa entrada. Imprevistos.
Na sequência, para entrar no cinema em si, precisava apresentar o ingresso digital, mas ali, exatamente na entrada, não funcionava a internet… Precisei ir para o meio do shopping para abrir os ingressos, mais imprevisto e mais atrasado.
Já toda atrapalhada fomos para a sala do filme, e obvio, que com todos esses atrasos, quando chegamos o filme já estava começando. E eu, apurada: blusa no braço, bolsa caindo do ombro, pipoca grande em uma mão, refrigerante grande na outra e ainda o celular! Era a cena do desastre. A sala escura e o Gabriel todo tenso, (ele ainda está numa fase que sente muito vergonha e se preocupa sobre maneira com o que os outros vão pensar). Ele estava me acelerando, pois na visão dele estávamos atrapalhando as pessoas.
Então, foi quando tudo aconteceu, em poucos segundos, tropecei na escada da sala escura, a pipoca voou para todos os lados, senti o refrigerante escorrendo pelo meus pés e o celular sumiu… Gabriel envergonhadíssimo veio me ajudar, pegou o meio pacote de pipoca que sobrou, o copo amassado do refrigerante e segurou a minha mão para me levantar. Mas nada do celular. Eu não poderia ir para meu assento sem ele, e então, em um gesto de compaixão, umas das mulheres que assistiu minha patética queda emprestou o celular dela com a lanterna acessa. Logo localizei meu aparelho, que tinha voado para debaixo de uma das poltronas.
Depois de um inicio tenso fomos para nos
so lugar, na última fileira da sala. Eu fui rindo, o que mais poderia fazer, mas meu filho estava nervoso e envergonhado (isso porque fui eu que cai). Nem me deixava rir.
Deixamos o sangue esfriar e nos concentramos no filme e em comer o resto da pipoca que havia sobrevivido a queda.
Mas o mais importante desse dia não foi o tempo de qualidade, o filme, a preparação ou lidar com os imprevistos, mas sim a oportunidade que tive de conversar com o Gabi sobre temas importantes.
Que ele não precisa ficar tão preocupado com a opinião das pessoas, pelo menos dessas que ele não conhece e que provavelmente nunca mais verá na vida. Pude dizer para ele que situações chatas e constrangedoras podem acontecer com qualquer um, faz parte da vida, e isso não é o fim. Que se um dia ele cair, ele pode se levantar e continuar andando e que com certeza haverá alguém para estender a mão e o ajudar. Que da mesma forma, se alguém cair do lado dele, ele pode ser essa mão amiga que ajudará o outro a se levantar.
Onde mais ou em que circunstâncias poderia ensinar lições tão valiosas?
Katia Ferreira
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