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Foto do escritorKátia Ferreira - Psicóloga

O CHORO DO VESTIBULAR


Se você acha que esse choro se refere à ansiedade do aluno ou ao fracasso de não obter um bom resultado, está enganado. Neste texto, gostaria de convidar você, meu leitor e minha leitora, a uma reflexão sobre as emoções que os pais sentem quando seus filhos estão no vestibular. Afinal, os pais também choram (bom, as mães, sim) — e o que esse momento significa para quem assiste de perto a jornada do vestibulando.


Quero contar uma história que aconteceu comigo. Talvez você tenha passado por algo semelhante ou tenha experimentado uma emoção parecida. No meu caso, a emoção foi muito forte e atingiu meu coração de forma inesperada.


Tudo aconteceu no dia da primeira fase do vestibular da Federal. Foi uma semana agitada, marcada pela ansiedade e tensão, mas também pela preparação. Tentamos manter ao máximo o ambiente calmo e tranquilo, pois sabíamos que aquele domingo seria especial. Era o dia em que as portas poderiam se abrir: porta 1, onde uma nova história começaria a ser escrita, ou porta 2, onde a frustração e o adiamento de sonhos poderiam se apresentar.


Por isso, além de proporcionar um espaço de estudo tranquilo, buscamos criar um ambiente acolhedor, onde nosso filho pudesse abrir o coração e compartilhar os sentimentos que o rondavam. E eles vieram, como sempre vêm. Surgiu o medo: “Não vou conseguir, não sou bom o suficiente, não estudei o bastante”. Logo depois, a euforia: "Ano que vem, vou para a faculdade, vou fazer o que quiser!"


Então, nós, como pais, tivemos que acolher e incentivar, dizendo: "Calma, você passou anos estudando, você vai conseguir. Tente, vai dar certo! Concentre-se no que está por vir, um passo de cada vez."


Assim foi nossa semana, nesse sobe e desce emocional. Para nós, pais, estava tudo bem. Nossa missão era apoiar, incentivar, acolher e direcionar, e conseguimos cumprir essa missão. No sábado, compramos juntos os lanches para o domingo, ajudamos na preparação dos materiais, imprimimos os documentos e separamos as canetas. Participamos de perto desse momento tão especial na vida de um jovem de 17 anos.


No domingo, cancelamos todos os compromissos pela manhã para poder ficar com ele, transmitir paz, segurança e calma, pois sabíamos que a ansiedade era forte em seu coração. O maior medo dele era: "E se eu não passar?" Nós, como pais, precisávamos ouvir e acolher essa dúvida, ao mesmo tempo em que transmitíamos segurança, lembrando-o de que, se não passasse, não seria o fim do mundo, mas também encorajando-o a fazer o melhor e a lutar por aquilo que queria. Esse equilíbrio entre acolhimento e incentivo não é fácil, mas é possível. E foi exatamente o que fizemos no sábado e no domingo pela manhã.


No domingo, o portão abriria ao meio-dia, e ele queria estar lá nesse horário para garantir que não ficaria de fora. Saímos de casa com muita antecedência, o que nos deu tranquilidade para chegar com segurança.


Ao chegar, ele vestiu sua camisa do "fera", encontrou os amigos na fila e tirou uma foto. Observamos de longe, com aquele sentimento típico: "Como o nosso menino cresceu."


Após deixá-lo lá, algo inesperado aconteceu. Um choro, como um nó na garganta, atravessou minha alma, estava guardado lá no fundo, e como uma torrente de águas veio à superfície. As lágrimas inundaram meus olhos e transbordaram pelo meu ser. Não consegui conter. Foi como uma avalanche, trazendo à tona toda a nossa história. Lembrei-me de quando ele ainda era pequeno, dependente, aprendendo os primeiros passos da vida. E agora, lá estava ele, caminhando em direção à sua própria jornada.


Era o fim de uma fase. Meu filho não era mais uma criança. Ele estava terminando mais uma etapa para iniciar outra: a vida adulta. Era hora de dizer, não um adeus, mas um “vai com Deus", sabendo que as coisas mudariam. Aquele choro me acompanhou por todo o domingo. Era o momento de deixá-lo partir. O vestibular é um marco não apenas na vida dos filhos, mas também na vida das mães. É o aviso de que uma parte significativa do nosso trabalho foi feita, está concluída. Agora, é hora de passar a bola para eles, e deixá-los marcar o gol.


Ainda não sei o resultado da prova, se ele passou ou não. Mas sei que, por tê-lo conduzido até aqui, eu passei na minha prova. Venci o meu vestibular, e posso me alegrar com essa conquista.


Com carinho,

Katia Ferreira

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